A vida bloqueada
instiga o teimoso viajante
a abrir nova estrada.

Helena Kolody

domingo, 29 de abril de 2012

PÂNICO

 
PÂNICO

Não há mais lugar no mundo.
Não há mais lugar.

Aranhas do medo
fiam ciladas no escuro

Nos longes, pesam tormentas.
Rolam soturnos ribombos.

Súbito,
precipita-se nos desfiladeiros
a vida em pânico.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

DOM


Dom


Deus dá a todos uma estrela.
Uns fazem da estrela um sol.
Outros nem conseguem vê-la.

SAUDADES


SAUDADES

Um sabiá cantou.
Longe, dançou o arvoredo.
Choveram saudades.

CREPÚSCULO DE ABRIL


Crepúsculo de Abril

Longa pincelada de cinábrio, no poente,
sublinha os nimbos gris.

A púrpura veludosa do amaranto
veste os jardins do outono.

Dorme a névoa dos vales.
No coração transido, a noite desce.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

LIÇÃO MODERNA

Lição Moderna

Em lugar do ABC
aprenderam
BTN
FMI
UPC 

Do livro: "Ontem agora", Secertaria de Estado de Cultura do Paraná, 1991, PR
     

BAILARINA


Bailarina

Dança a labareda banca
num lampejo de beleza.

Em silenciosa eloquência
sua expressão corporal
delineia o pensamento.

Leve, o gesto devaneia,
transfigura em movimento
o motivo musical.

ABISMAL


ABISMAL

Meus olhos estão olhando
De muito longe, de muito longe,
Das infinitas distâncias
Dos abismos interiores.
Meus olhos estão a olhar do extremo longínquo
Para você que está diante de mim.

Se eu estendesse a mão, tocaria a sua face.

POESIA MÍNIMA

Poesia Mínima

Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos.

SAGA


Saga

No fluir secreto da vida,
atravessei os milênios.

Vim dos vikings navegantes,
cujas naus aventureiras
traçaram rotas nos mapas.


Ousados conquistadores
fundaram Kiev antiga,
plantando um marco na história
de meus ancestrais.

Vim da Ucrânia valorosa,
que foi Russ e foi Rutênia.
Povo indomável, não cala
a sua voz sem algemas.

Vim das levas imigrantes
que trouxeram na equipagem
a coragem e a esperança.

Em sua luta sofrida,
correu no rosto cansado,
com o suor do trabalho,
o quieto pranto saudoso.

Vim de meu berço selvagem,
lar singelo à beira d'água,
no sertão paranaense.
Milhares de passarinhos
me acordavam nas primeiras
madrugadas da existência.

Feliz menina descalça,
vim das cantigas de roda,
dos jogos de amarelinha,
do tempo do "era uma vez..."

Por fim ancorei para sempre
em teu coração planaltino,
Curitiba, meu amor!

Primeiro calçadão brasileiro.
Rua 15 de novembro (Rua da Flores) - 1972 - Curitiba - PR.
Ponto de encontro para manifestações políticas e culturais, bem como para uma série de discussões que vão desde assuntos relevantes à entretenimento.
- Boca Maldita -

domingo, 15 de abril de 2012

ALEGRIA DE VIVER


ALEGRIA DE VIVER

Amo a vida.
Fascina-me o mistério de existir.

Quero viver a magia
de cada instante,
embriagar-me de alegria.

Que importa a nuvem no horizonte,
chuva de amanhã?
Hoje o sol inunda o meu dia.

FUGITIVO INSTANTE

FUGITIVO INSTANTE

Captar os seres
em seu fugitivo instante de beleza.

VÔO CEGO

VÔO CEGO

Em vôo cego,
singro o nevoeiro.
Onde o radar que me guie?

Perco-me em labirintos interiores.
Que mistérios defendem
tantas portas seladas?

Quem me cifrou em enigmas?

JOVEM




JOVEM

Suporta o peso do mundo.
E resiste.
Protesta na praça.
Contesta.
Explode em aplausos.
Escreve recados
nos muros do tempo.
E assina.
Compete
no jogo incerto da vida.
Existe.


sábado, 14 de abril de 2012

FLAMA


Flama

Na flama divina
que em nós resplandece,
palpita a alegria
de ser para sempre.

LIMIAR


Limiar

I
Da soturna jornada
Pelas brumosas sendas
Da anestesia,
Não guardei memória.

Sou um pêndulo que oscila
Dos limites da vida
Aos limites da morte.

Rubros lobos me espreitam silentes,
Numa densa garoa vermelha
Que lateja no ritmo da febre.

Venho à tona, por segundos,
E volto ao limo do sono.

Da sede, brota em meu sonho uma fonte:
Água fria em chão de pedra.
No fundo, uma alga se espreguiça
E essa alga sou eu.  

II
Luminosa alegria de olhar!
De todos os lados, o apelo do verde,
Da vida verde e serena.
Aquele cipreste
Que gesticula e dança,
Acorda-me na lembrança
Reminicências vegetais:
Pequenino fremir de relva
No dorso dos campos;
Altos pinheiros imóveis;
Floresta oceânica e múrmura.
Festivo apelo do verde,
da vida verde e serena.

Ventura elementar de estar ao sol,
Viva e sem dor.

IN "CÂNTICO DOS CÂNTICOS"

 
"Su’alma beijou a minha
Num longo olhar de amor.
Gravei seus olhos em meu coração."


sexta-feira, 13 de abril de 2012

SEMPRE MADRUGADA

Sempre madrugada
 
Para quem viaja ao encontro do sol,
é sempre madrugada.

ANTES


ANTES

Antes que desça a noite,
imprimir na retina
os rostos amados,
o sol
as cores,
o céu de outono
e os jardins da primavera.

Inundar de sons
de vozes
e de música eterna
os ouvidos
antes que os atinja
a maré do silêncio.

Conquistar
os pontos culminantes
da vida,
antes que se esgote
o prazo de permanência
em seu território sagrado.

 

A MIRAGEM DO CAMINHO


A MIRAGEM NO CAMINHO

Perdeu-se em nada,
caminhou sozinho,
a perseguir um grande sonho louco.

(E a felicidade
era aquele pouco
que desprezou ao longo do caminho).

EU COMIGO


Eu Comigo
 
Muito briguei eu comigo,
tive raiva,
me insultei.
E, de incontido desgosto,
em meu próprio ombro chorei.

domingo, 8 de abril de 2012

CROMO

Cromo

No silêncio luminoso da tarde,
as árvores desfolham-se em pardais.

NOITE


Noite

Luar nos cabelos.
Constelações na memória.
Orvalho no olhar.

NUNCA E SEMPRE


NUNCA E SEMPRE

Sempre cheguei tarde
ou cedo demais.
Não vi a felicidade acontecer.
Nunca floresceram
em minha primavera
as rosas que sonhei colher.

Mas sempre os passarinhos
cantaram e fizeram ninhos
pelos beirais
do meu viver.

VOZ DA NOITE


VOZ DA NOITE

O sol se apaga.
De mansinho,
a sombra cresce.
 
A voz da noite
diz, baixinho:
esquece... esquece...

RETRATO ANTIGO


RETRATO ANTIGO

Quem é essa
que me olha
de tão longe,
com olhos que foram meus?

sexta-feira, 6 de abril de 2012

CARROÇA DE TOLDA


Carroça de tolda

Cedo, a carroça
Já vai na estrada.
Vai a parelha
Bem ajaezada:
Franja de guizos
Pela testada...
Cantam os guizos
Na madrugada.

Parece, a tolda,
Lenço de lona.
De lenço branco
Vai a colona.
Pelo arvoredo,
Há uma neblina,
Que é um alvo lenço
De musselina.

Rosto curtido,
Mão calejada,
Guia a colona
Lenta e calada.
Geme a carroça,
Tão carregada!
Cantam os guizos
Na madrugada...